O RÁDIO E O MUNDO EM GUERRA

Autor : Wilson Rodrigues, Conselheiro do DXCB

Em maio1999, sentei a frente do computador para escrever um artigo sobre a atuação do rádio nos conflitos armados. Procurando artigos que pudessem me orientar nesta empreitada, percebi que o problema das guerras era muito mais amplo que imaginava. São tantos os conflitos, que acabamos nos perdendo em quem ataca quem, quem iniciou, ou quem está certo ou errado!

Meu artigo ficou escondido no micro durante todo esse tempo e só agora dei continuidade ao mesmo. Em 1999 havia cerca de 60 países no mundo em situações de conflito armado. As grandes emissoras internacionais sempre dão informações sobre esses conflitos, muitas com riqueza de detalhes, o que torna o noticiário destas emissoras muito interessante seja para os ouvintes do rádio, seja no país de origem do conflito, seja em outras regiões.

Neste elenco de países, as emissoras relatavam o nome de países que participavam abertamente de terrorismo internacional, de movimentos autonomistas, religiosos, problemas internos sem solução a vista, internacionais sem solução a vista, alguns com movimentos não armados por território, como a Venezuela, Taiwan, Síria, Rússia, Guiana Guatemala, Geórgia dentre outros! Sempre há também as missões da ONU em regiões com conflitos.

Ao longo dos anos vimos nascer e morrer emissoras envolvidas nestas regiões conflitantes:

-“Transmite desde Morazán, EL salvador, Banda Internacional de 40 metros, Rádio Venceremos, Voz Oficial del Frente Farabundo Marti para la Leberación Nacional! Tenho um adesivo desta emissora. Esta estampado no adesivo, um alvo para tiro, e sobre o alvo um fuzil automático! Pelo adesivo da emissora dava para se conhecer seus objetivos

Houve um tempo em que o mundo polarizado, olhava EUA x URSS e com o fim da guerra fria, a neblina que encobria as lutas tribais africanas desapareceu descortinando um continente com 15 países em conflitos onde muitas das vezes, as emissoras reportavam que as armas para matar os inimigos eram facões amolados!

Ainda hoje a Rádio Exterior, da Espanha, tem um programa que se chama, “Mundo Solidário” onde sempre se comenta sobre atrocidades de grupos envolvidos nos conflitos. Neste programa sempre há enfoque das barbaridades ocorridas em várias partes do mundo!

O rádio com o seu poder de penetração, é sem dúvida o melhor meio de enviar mensagens sejam ideológicas, sejam de críticas, ou para incitar o povo a reações! E sempre que um conflito se inicia em uma região, nasce com ele uma emissora, ou as vezes duas, sendo que de cada lado, há opiniões diferentes, as vezes dividindo as opiniões de que ouve essas emissoras.

Muitas não tem interesse em receber informes de recepção de ouvintes que estão longe da área de conflito, pois o interesse da emissora é atingir principalmente quem esta diretamente envolvida, seja de um lado ou de outro. Por outro lado há emissoras que tem interesse em receber informes de recepção, como uma forma de saber se há pessoas em outras regiões se informando sobre seus problemas e se a opinião pública mundial esta alinhada com os seus interesses! Informes de recepção podem ser um termômetro para medir opiniões a favor ou contra!

A TV mostra certos acontecimentos da guerra em pequenos episódios, sem entrar em detalhes do acontecimento. Quando ouvimos um fato no rádio em geral ele vem acompanhado das razões que o levaram a cabo, há entrevistas com os dois lados, e desta forma o ouvinte pode ser um crítico analítico e entender melhor cada parte.

A grande população, também se vê a mercê da mídia radiofônica que muitas vezes manipula as informações dando opiniões que nem sempre corresponde a realidade.

Há períodos em que as bandas de radiodifusão são verdadeiros shoppings centers de emissoras levantado bandeiras a favor de uma causa em defesa de um povo! São tantas emissoras denominadas clandestinas com os mais variados nomes, Rádio nacional de la República Arabe Saharaui Democrática, Voice of Biafra Internacional, Voice of Democratic Eritrea, Voice of Etiopian Medhin, Voice of Oromo liberation, e muitas outras.

Para fazer frente a essas emissoras muitos países usaram o “jamming” para neutralizar as mensagens enviadas. Certa ocasião eu e o amigo Sérgio Partamian escutávamos a emissora clandestina Voice of the Mojahed, e assim que a amissora entrou no ar surgiu o jamming interferindo na mesma, Voice of the Mojahed mudava de freqüência alguns KHz e o jamming ia atras continuando as interferências e assim ficou por longo tempo.

Um dos problemas na escuta destas emissoras, é o idioma em que é transmitido, muitas das vezes em dialetos complicados, o que torna quase impossível qualquer entendimento. Neste universo de emissoras em regiões com guerras, muitos dexistas reportam as mesmas com o único objetivo do conseguir uma confirmação, outros querem ouvi-las para se inteirar dos pontos de vista de cada lado do conflito.

Quando duas nações dão trégua a um conflito, outro, vê suas crianças serem metralhadas dentro do próprio país, como ocorreu em setembro na Rússia chocando o mundo com a barbárie dos terroristas. Tal fato deu munição às emissoras do mundo inteiro que fizeram os mais diferentes comentários a respeito do fato!

Certa ocasião escutava uma emissora internacional que em uma entrevista a um cientista de guerra, o mesmo alegava o mal necessário das guerras como forma de controle da população! No debate na emissora um oponente do cientista, comentava, que ele, o cientista era a favor, porque era já de idade avançada, e se tivesse que enviar obrigatoriamente seus filhos e netos a uma guerra sangrenta, certamente, teria outra opinião!

Escutando a Rádio Iugoslávia, numa reportagem sobre os campos de refugiados da Macedônia, a emissora saiu do ar, e não voltou, num informe da BBC ficamos sabendo que haviam danificado sua antena naquele conflito terrível!

Será que nunca deixaremos de ouvir as emissoras reportando guerras e mais guerras ao longo de nossas vidas? Einstein provocou Freud a responder: o pacifismo tem futuro no mundo? Freud nunca foi otimista em relação ao homem, mas apostou na civilização!

Durante a Segunda guerra mundial, sabemos de relatos em que emissoras clandestinas emitiam informações de apoio aos resistentes de uma região muitas das vezes com informações falsas, dando conta de avanços de tropas amigas para reforçar a alta estima e o moral da tropa para enfrentar o inimigo! Neste periodo, quase todas as nações usaram o rádio como forma de se informar sobre o andamento da guerra.

O dexista brasileiro de origem polonesa, Jerzy Sielawa, que participou da resistência polonesa na Segunda guerra, comenta que ainda adolescente, montava receptor super regenerativo usando lâmina de barbear para fazer o capacitor variável que teria a função de selecionar as emissoras ouvidas, e ouvir a BBC para se inteirar dos bastidores da guerra. Há histórias incríveis sobre a atuação do rádio nas guerras.

Ainda jovem adolescente na década de 60 ao ouvir as emissoras internacionais, ficava muito atento com as informações que chegavam dando conta dos conflitos mundo afora. Lembro-me bem que ao informar a um senhor de origem eslava, sobre minhas escutas, ele me alertou: tenha muito cuidado com o que você escuta, há muitos comentários apaixonados, mas que não traduzem a verdade. Sou de uma região de onde você escuta a emissora e posso afirmar que lá a vida não é tal bela como apregoam, as mensagens ali transmitidas não passam de “canto da sereia” reafirmou ele!

DX Clube do Brasil


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Engenheiro Eletrônico, trabalha na área de TI e Telecomunicações e é aficcionado por tecnologia, e a prática da radioescuta
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