Internet

O rádio é ecologicamente correto, já a Internet…

A imprensa mundial ainda que timidamente, está mostrando os efeitos do homem no meio ambiente. Efeito estufa, aquecimento global, buraco na camada de ozônio, o fim próximo das reservas de combustíveis fósseis, enfim, uma variedade grande de problemas que afetam invariavelmente a vida de todos que moram neste pequeno planeta azul.

Mas onde está a ecologia nesta história? E o nosso amigo rádio?

É simples : tenho lido em algumas publicações que um motivador adicional à tendência de encerramento das transmissões internacionais de radiodifusão seria as emissões de carbono geradas pelos grandes grupos transmissores.

E simultaneamente, os arautos do apocalipse que profetizam que a rede mundial de computadores – Internet – é um verdadeiro buraco negro e que irá sugar também o papel do rádio, corroboram esta idéia.

Enfim, um erro grosseiro!

Classicamente, grandes parques transmissores estão localizados em regiões com potencial hídrico suficiente para produzir eletricidade, e assim, não há queima de combustíveis e não há produção nem lançamento de carbono na atmosfera. E mesmo os transmissores que são alimentados através de energia nuclear, ainda assim são muito mais eficientes do que se pode imaginar.

Agora, o que você me diria se soubesse que a cada procura de informação que é realizada na Internet, utilizando as ferramentas de busca do GOOGLE é liberado na atmosfera o equivalente a 7 gramas de CO2, sendo que para efeito de comparação e dimensão, ao se aquecer uma chaleira com água suficiente para duas xícaras de café, são produzidas cerca de 15 gramas de CO2 ?

Ou seja, quem é ecologicamente correto, a radiodifusão ou a Internet?

Agora veja o outro lado da moeda que os arautos do apocalipse não querem contar para você ou simplesmente ignoram os fatos e não tem conhecimento em tecnologia mínimo para entender aspectos básicos de matriz energética.

Imagine um parque transmissor em ondas curtas com 100 KWatts de potência. Imagine o que é razoável, que é a utilização de uma faixa de freqüência adequada a região onde se quer que o sinal alcance com qualidade, e também, na janela horária adequada a propagação ionosférica para esta região.

Enfim, nada diferente do tradicional utilizado em emissões internacionais e regionais no rádio de ondas curtas.

Agora, vamos assumir que em nossa emissão hipotética, pretende-se atingir uma audiência potencial de 100.000 ouvintes, e destes em média, 5%, ou seja, 5.000 irão ligar seus rádios para ouvir uma hora de uma boa programação de notícias e cultura geral.

Pois bem, vamos considerar que cada ouvinte utiliza um receptor de ondas curtas “normal”, ou seja, um rádio que pode funcionar a pilha ou diretamente na tomada elétrica, e que tipicamente um rádio consome em torno de 100mA alimentado por três pilhas convencionais de 1,5 Volts. Obtemos então o consumo médio estimado em 450 mWatt por ouvinte. Como temos 5.000 ouvintes ouvindo o rádio, teremos o consumo total de 2,25 KWatts. Podemos ainda supor, dentro do conceito de ecologicamente correto, que pode-se utilizar pilhas recarregáveis, que agridem menos o meio ambiente, ou a simples e tradicional energia elétrica doméstica.

Somando a potência do parque emissor ao conjunto de ouvintes, que é de 100 KWatts, adicionado energia necessária ao estúdio e ao link de comunicação entre este e o transmissor, podemos adicionar algo em torno de 10 KWatts.

Assim, para uma emissão de uma hora, com 5,000 ouvintes ligados ao éter, teremos a potência final consumida de 115 KWatts aproximadamente.

Agora, vejamos o outro lado da moeda, ou seja, uma emissora que abandonou de forma estúpida as ondas curtas, e no seu lugar, passou a transmitir seus programas através da INTERNET.

Não importa se a transmissão é ao vivo, ou seja, com hora marcada para começar e terminar o chamado “stream”, tipicamente em formato Windows Media Player, ou Real Audio, ou se o áudio do programa em algum formato conhecido (MP3, WMV, Quicktime etc) for hospedado em algum servidor em algum datacenter espalhado pelo mundo para que o “ouvinte” o carregue para seu computador quando bem lhe convier.

E vamos assumir também que o programa tem uma hora de duração e que os mesmos hipotéticos 5.000 ouvintes irão ouvir o programa.

Bem, temos aí um grande problema para o meio ambiente!

Como poderemos ver, será uma tremenda covardia comparar as emissões em ondas curtas com as “emissões” na INTERNET.

Vamos começar com a estrutura mínima necessária para se converter o sinal de áudio, em formato digital típico da Internet, ou seja, a partir dos estúdios, teremos que enviar o programa para algum equipamento (computador) que irá receber os arquivos.

Este computador, na realidade, nunca é um só, pois o poder de processamento necessário para atender, ou seja, suprir as informações na INTERNET é como regra geral um número bem grande deles, normalmente funcionando com a ajuda de outros equipamentos para realizar o balanceamento de carga (processamento) requerido para atender as requisições dos usuários.

Então, estamos falando de:

– Centro de roteamento de Internet

Local onde ficam armazenados equipamentos de comunicação dedicados a INTERNET sabidamente onde hospedam uma grande diversidade de dispositivos necessários a transmitir e receber informações. Somente alguns exemplos (equipamentos de fibra óptica, equipamentos de rede tipo Switches, roteadores, servidores de resolução de nomes DNS, gerenciadores de tráfego, servidores de roteamento etc, etc, e novamente etc). Um centro de roteamento típico de pequeno porte em nosso exemplo hipotético irá requerer 20 KWatts. Sim, pois todos estes equipamentos precisam estar em ambiente controlado com temperatura baixa e com umidade relativa do ar gerenciada, o que requer: energia elétrica, mais e mais.

– Datacenter

Aqui falamos do grande ofensor do meio ambiente ! Imagine um prédio com sistemas de potência elétrica (grupos geradores utilizando motores turbo-diesel, no-breaks, etc), sistemas de prevenção de incêndio, circuito interno de TV, sistemas de condicionamento de ar e controle de umidade relativa do ar, e muitos computadores conectados em outros equipamentos centrais de rede, como switches, firewalls, e uma infinidade de outros dispositivos acoplados para permitir que o ouvinte de casa, possa utilizar o seu browser, como o Firefox ou Internet Explorer, e o seu programa de reprodução de multimídia tipicamente o Real Áudio ou Windows Media Player. Enfim, uma constelação de equipamentos de informática e telecomunicações minimamente necessários ao provimento das informações publicadas e disponíveis na Internet para os usuários finais. E um típico datacenter, digamos, de pequeno porte, requer algo em torno de 60 KWatts para funcionar.

Estou estimando na realidade um datacenter bem modesto, somente para atender a necessidade de transmissão de arquivos e stream de áudios na Internet, para este nosso pequeno público em particular, pois um datacenter típico, aqui no Brasil, por exemplo, consome normalmente potências da ordem de MEGAWATT ! Pergunte a IBM, Google, UOL, Embratel, Diveo, Impsat e tantos outros existentes no eixo Rio-São Paulo…

– Provedor de Acesso a Internet

Para que você possa se conectar a Internet, você irá precisar de um provedor de acesso, que no nosso caso, vamos estimar um provedor de pequeno porte que consome em média 100 KWatts de potência, para entregar os pacotes TCP/IP (que é o protocolo utilizado na Internet) necessários ao acesso a rede mundial para estes 5.000 usuários (para facilitar, vamos assumir que nessa região só exista um único provedor). Uma média de 20 Watts de de potência para iluminar cada porta de acesso a rede em caso de fibra óptica ou o equivalente em par trançado de cobre.

– Computador do feliz usuário da Internet

E aqui fechamos a comparação que você verá com seus próprios olhos, chega a ser covarde. Um computador doméstico típico consome algo em torno de 250 Watts, e um monitor tradicional de tubo de imagem, de 15”, por exemplo, consome em torno de 85 Watts. Um modem ADSL (sim, teremos que ter banda larga do contrário, a emissão de uma hora de duração se transforma em um martírio!), consume algo em torno de 5 Watts. Então, um usuário típico irá consumir 340 Watts para poder acessar a internet neste período. Mas… como são 5.000 usuários, o consumo total será em torno de 1.7 Megawatt ! Faça as contas você mesmo…

E por fim nossa contabilidade nos mostra que:

Centro de roteamento (20KWatts) + Datacenter (60KWatts) + Provedor (100KWatts) + Computadores dos usuários (1,7MWatts) : 1,88 MegaWatts

No fim, estamos comparando a potência estimada de 115 KWatts do velho e confiável sistema de radiofreqüência com 1,88 MWatts de potência para ouvir um programa de rádio na Internet…

Por fim, a pergunta que não quer se calar: Quem agride mais o meio ambiente?

Logicamente, esta comparação não é científica, porém, é um cenário próximo a realidade, e muito, mas muito conservador.

Temos que considerar que as facilidades de datacenter e provedor de Internet por definição precisam operar às 24 horas do dias os sete dias na semana, sendo assim, o cenário real é mais assustador!

Para exemplificar como a Internet, na realidade para ser mais especifico a computação pessoal, consome energia, podemos considerar que um computador doméstico tradicional é responsável por produzir algo em torno de 40 a 80 gramas de gás carbônico (CO2) lançado na atmosfera terrestre por hora de uso.

Assim, complementando com uma simples e inofensiva consulta ao GOOGLE, podemos acrescentar algo em torno de 7 a 10 gramas de CO2, se considerarmos o uso da ferramenta de pesquisa por 15 minutos. E com a complexidade cada vez maior dos meios de armazenagem das informações, a tendência atual é que o consumo de energia elétrica aumente ainda mais ao longo do tempo.

E para complicar um pouco, nestes tempos apocalípticos onde guerras regionais estão a todo o vapor em diversas partes do mundo, temos um ambiente ambíguo para o nosso tradicional e amigo rádio.

Pois como pensar em acessar a Internet na barbaramente atacada Faixa de Gaza, onde não há energia elétrica nem outros itens básicos a servir sua sofrida população?

A Internet pode ser cortada, seu conteúdo pode ser facilmente filtrado, os provedores de Internet e telecomunicações podem ser bombardeados assim como os parques transmissores de TV e FM locais, porém, o mesmo não acontece com as ondas curtas!

Por fim, as ondas de rádio do Professor von Hertz não respeitam as fronteiras geopolíticas…

Um simples rádio portátil, com um conjunto de pilhas alcalinas ou até os rádios mais populares que funcionam com gerador próprio por longos tempos de operação sem necessidade de suprimentos adicionais, não podem ser rastreados e nem censurados.

Pense nisso na próxima vez que você ler um argumento contrário a radiodifusão em ondas curtas…


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