Alguns cuidados na caça de cartões QSLs

Nas Ondas Curtas da Guarujá Paulista

Por Carlos Felipe

Alguns dexistas, no início da prática do hobby, ficam maravilhados com a possibilidade de receber cartões QSL. Ouvir o nome de outros dexistas em emissoras internacionais que “receberão o cartão QSL” e ver coleções de outros dexistas são fatores que impulsionam os novatos nessa prática.

Essa euforia inicial pode se tornar uma grande decepção. Isso costuma ocorrer devido a idéias pré concebidas quanto a obtenção do cartão. Podemos salientar:

1- Interesse em conseguir cartões raros antes de se adquirir prática na arte de reportar emissoras.
2- Ilusão de receber o cartão QSL somente pelo fato de algum outro amigo ter recebido recentemente um cartão de uma determinada emissora.
3- Não remeter relatórios suficientes para receber a primeira leva de QSLs.

Devemos esclarecer aos dexistas novatos que certas emissoras não são boas pagadoras de cartão QSL. Certamente esse é um dos fatores que desestimulam alguns amigos a dedicar o seu tempo e dinheiro a caça de QSLs. Contudo, essa faceta torna alguns cartões mais raros e interessantes que outros. Uma analogia válida seria uma coleção de selos. Alguns são mais raros que outros. Outro fator a se considerar é que com o tempo, os selos dessa suposta coleção se valorizariam. Então, voltando aos QSLs, mesmos os que são mais fáceis de se conseguir serão um dia mais valiosos.

O procedimento correto indicado para os dexistas iniciantes é começar reportando as grandes emissoras internacionais. Primeiro, para se praticar, as emissoras reportadas seriam em nosso idioma e em espanhol. Depois, conforme o dexista for confirmando as emissoras e rádio-países dele deve tentar se especializar e fazer relatórios de transmissões em outros idiomas.

O dexista iniciante, depois de já ter conseguido alguns cartões QSL, deve dar um novo passo em busca de cartões mais raros, de emissoras mais interessantes. Um caminho indicado é reportar emissoras que confirmaram recentemente relatórios de recepção. Isso, contudo, não é garantia de recebimento do cartão. Temos que lembrar que cada relatório de recepção pode percorrer um caminho diferente em uma emissora. Ou seja, há possibilidades do seu relatório de recepção cair nas mãos erradas e você não receber o seu cartão QSL.

O que se pode fazer para evitar essa situação? Nada garantirá o percurso do seu relatório em uma emissora. Um procedimento que pode ajudar é enviar o seu relatório diretamente para o V/S que confirmou o relatório recentemente. Os nomes de V/S costumam serem divulgados nos boletins dexistas. Mas você deve ser rápido para fazer uso desta vantagem. O V/S pode deixar de trabalhar na emissora se você demorar muito para enviar o seu relatório.

Já vi algumas situações interessantes. Em uma delas um radioescuta enviou quatro relatórios de recepção para emissoras nacionais e se queixava de não ter recebido nenhum cartão QSL. O que ele fez de errado? Mesmo sem ver o seu relatório de recepção posso afirmar que ele cometeu um erro muito grave na sua incursão no mundo dos QSLs. Mandou poucos relatórios.

Um detalhe pouco divulgado pelos grandes confirmadores de estações é o número de relatórios não respondidos. Esse número é alto. Conclui-se então que para cada relatório confirmado pode haver outro que não rendeu o cartão QSL.

Uma tática simples para se driblar isso é remeter muitos relatórios de recepção. Lembre-se que quanto mais cartões você receber mais você se animará a dedicar o seu tempo a escrever relatórios.

Para encerrar o assunto, fui questionado por um dexista se determinada emissora confirmava, etc. Tinha sido o único relatório remetido por ele e ele estava ansioso aguardando o recebimento do seu cartão. Imagine o jogo dos QSLs como se você estivesse em um cassino. Cada relatório é uma aposta e cada cartão recebido é uma vitória. Dentro de suas várias apostas você perderá muito dinheiro, mas poderá ganhar algo em troca se continuar apostando.

Não quero fazer aqui uma apologia aos jogos de azar, mas leve em conta que para você ter uma coleção de 100 cartões QSL provavelmente você terá que enviar uns 130 relatórios. Alguns não lhe trarão retorno, mas farão parte do jogo.

Se você não é bom o suficiente para escrever cartas realmente interessantes pode ser necessário compensar esta deficiência de alguma forma. Uma delas é o envio de alguns souvenires juntamente com o seu relatório. A eficiência disso é relativa. Há radioescutas que jamais mandam um cartão postal junto com a sua carta e relatório e tem sucesso em suas caçadas.

No caso, por exemplo, de uma pequena emissora de ondas médias do interior o fato de receber uma carta dando conta da sua sintonia em um lugar distante já é mais do que suficiente para agradar o V/S. Mas se a emissora já receber muitas cartas, é realmente importante que a sua carta se destaque das outras.

Fazer uma carta “que se destaque” não significa escrevê-la em um papel néon com alguma caneta colorida. Procure contar, em poucas palavras sobre qual é o seu intuito, quem é você, onde trabalha, etc.

Nem sempre uma carta comprida agrada. Certa vez conversei com o gerente de uma emissora e ele me disse que não tinha costume de ler cartas muito compridas… Certamente ele era um homem muito ocupado e você não iria agradá-lo contando detalhes de sua vida particular. Neste caso você deveria ser breve.

Para agradar quem gosta e também quem não gosta de ler você deve fazer a sua carta de forma modular. Ou seja, use uma máquina de escrever e deixe bem nítidos os blocos de sua carta. A apresentação separada do relatório e do pedido de QSL. Assim, se o V/S for apressado em uma rápida passada de vista ele verá o que interessa a ele na sua carta. Se for uma pessoa com mais tempo, a sua organização do texto irá tornar mais agradável o prazer da leitura.

Reportar emissoras de ondas médias e tropicais brasileiras é uma parte muito interessante do nosso hobby. Mas nessa modalidade residem alguns dos perigos para o radioescuta novato.

Diferentemente das grandes emissoras internacionais de ondas curtas, que incentivam o envio de relatórios de recepção, as emissoras regionais não tem tanto interesse em recebê-los.

Esse fato já predispõe as emissoras a não dar tanta atenção a esses relatos. Sendo assim devemos proceder de forma diferente se estivermos interessados em um cartão QSL. Recebo vários relatórios de recepção na R. Transmundial. Vários deles não têm nenhum comentário. Muitos radioescutas enviam somente o relatório de recepção, pedem o cartão QSL e adesivos, flâmulas etc…

A diferença da Radio Transmundial entre outras emissoras é que ela é uma emissora de ondas curtas e tem interesse em saber como ela está sendo sintonizada em várias partes do país. Sendo assim nós respondemos mesmo esses relatórios, pois eles trazem a informação que desejamos.

Mas será q esse procedimento daria certo com uma emissora que transmite no interior do Mato Grosso? Ela já sabe que o seu sinal “vai longe”, receber relatórios de recepção não é nenhuma novidade para ela.

Aí reside o perigo. Como já foi comentado anteriormente, você deve fazer um relatório com capricho, que seja interessante em informações sobre a captação da emissora e que cative quem for lê-lo. Ressalto aqui que é importante que você fale um pouco de você no relatório.

E o QSL? Será que receberei a confirmação para o meu relatório? Eu diria que, o ideal, é esperar sentado pelo seu QSL. Por vários motivos as respostas demoram as vezes para vir. Eu diria que depois de 60 dias, para relatórios para emissoras nacionais, as possibilidades de se receber o cartão QSL diminuem sensivelmente.

O que fazer então? Desistir? Abandonar o hobby? O dexista deve ser persistente.

Citarei aqui um caso que ocorreu comigo. Uma emissora da banda tropical de 90 metros me chamava atenção. Mandei o relatório e não obtive resposta. Após três follow-ups, (que podemos traduzir como acompanhamento ou cobrança), tive o QSL tão esperado. Usei esse procedimento com outras emissoras e consegui recuperar vários relatórios “perdidos”. Quando envio um Follow-up eu remeto juntamente com a cópia do relatório uma pequena carta, que deve ser curta, dizendo que não recebi o tão esperado QSL. Ocasionalmente jogo a culpa nos serviços postais brasileiros…

Costuma render bons resultados. Nem sempre dá certo, mas não é tão difícil Ter uma fotocopia do relatório e escrever uma pequena carta insistindo na confirmação.

Após receber o seu cartão QSL não custa nada agradecer a emissora. Lembre-se que ela foi cortes com você. Alguém dedicou tempo para lhe redigir uma carta e não custa nada remeter um cartão postal agradecendo a atenção.

Fazendo isso você estará ajudando o próximo amigo dexista que enviar um relatório a emissora. Certamente.

Há de se considerar que essas regras não precisam ser levadas ao pé da letra. Escrever um relatório de recepção não é o mesmo que escrever um programa para computador. Em um programa de computador, se você fizer uso correto da linguagem de programação, a máquina interpretará os dados e executará o que você pré-determinou.

No mundo dos QSLs o seu relatório de recepção é como se fosse um programa. Só que quem irá interpretar esse “programa” é uma pessoa de carne e osso, sujeita a mau humor e a todos as emoções que um ser humano tem. Por isso procure se especializar escrevendo os seus relatórios com sensibilidade, procurando trazer a essa pessoa alguma informação interessante e não somente um pedido por um cartão QSL.

DX Clube do Brasil



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Engenheiro Eletrônico, trabalha na área de TI e Telecomunicações e é aficcionado por tecnologia, e a prática da radioescuta
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