O verdadeiro inventor do Telefone não foi Alexander Graham Bell

Publicado na lista Radioescutas@ por Manuel Jesus

RESUMO BIBLIOGRÁFICO (13/04/1808 – 18/10/1896)
Antonio Santi Giuseppe Meucci, Nasceu em San Frediano, atualmente um bairro de Florença, na Itália, em 13 de Abril de 1808. Estudou na Academia de Belas Artes da capital de Toscana, trabalhando posteriormente como empregado da alfândega e como técnico de cenários no Teatro da Pergola, onde conheceu sua futura esposa, Ester Mochi.

Estudou engenharia química e engenharia industrial. Foi preso entre 1833-1834, por participar no movimento de libertação italiano. Casou-se o dia 7 de agosto de 1834 com Ester Mochi. Foi acusado de participar na conspiração do Movimento de Unificação Italiana e preso novamente, durante três meses.

Em Outubro de 1835, o casal deixou Florença para sempre, emigrando para o continente americano, com primeira parada em Cuba, onde Meucci aceitou um emprego no Gran Teatro de Tacon em Havana. Em 1850, Meucci e sua esposa emigraram para os Estados Unidos, fixando residência em Clifton (em Staten Island, perto da cidade de Nova Iorque), onde viveram o resto de suas vidas.

Antonio Meucci morreu em 18 de Outubro de 1889, na cidade de Nova York, nos Estados Unidos.

O TELEFONE, uma invenção sem a qual nenhum de nós poderia viver nos dias atuais, uma ferramenta da comunicação moderna, tão importante que muitas das atividades sociais e de negócio, de hoje, seriam inconcebíveis na sua ausência, ele está no centro de uma série de eventos tão estranhos e em tamanha quantidade como os que vemos em um filme de ficção.

A maioria de nós aprendeu a ver, em Alexander Graham Bell, através da história, a figura romântica de um inventor, com traço e encanto. Algumas destas impressões favoráveis devem ter vindo da apócrifa mas famosa frase: “Come here Watson, I want you” (“Watson, venha até aqui, eu preciso de você”; frase legendária da invenção do dispositivo, cuja tradição foi aumentada pela versão em filme desta fábula, na qual o ator, Don Amiche, se tornou mais ou menos unido, de forma permanente à pessoa de Graham Bell.

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Antonio Meucci

Mas parece que a história deve ser reescrita, para que a justiça seja feita a um imigrante de Florença, Itália: Antonio Meucci, que inventou o telefone, em 1849, e registrou seu primeiro pedido da patente (intenção de registrar uma patente), em 1871, dando início a uma série de eventos misteriosos e injustiças, que seriam até inacreditáveis se não estivessem tão bem documentados.

Meucci foi uma pessoa enigmática, um homem incapaz de superar sua falta de talento gerencial e empreendedor, um homem atormentado por sua inabilidade para comunicar-se em outros idiomas, exceto o italiano. Os eventos trágicos de sua vida pessoal e profissional, de suas realizações e de sua associação com o grande patriota italiano, Giuseppe Garibaldi, já deveriam ser legendários por si mesmos mas, curiosamente, o homem e sua história são praticamente desconhecidos nos dias atuais.

Antonio Meucci nasceu em San Frediano, perto de Florença, em 13 de abril 1808. Estudou engenharia mecânica e de projetos na Academia de Finas Artes de Florença, e trabalhou no Teatro Della Pergola, bem como em vários outros teatros, como técnico de palco, até 1835, quando aceitou um trabalho como projetista cênico e técnico de palco no Teatro Tacon, em Havana, Cuba.

Absolutamente fascinado por qualquer tipo de pesquisa científica, Meucci lia qualquer tratado científico que chegasse em suas mãos, e despendia nas pesquisas todo o seu tempo livre, em Havana, inventando um novo método para galvanização de metais, o qual aplicou em equipamentos militares, para o governo cubano; ao mesmo tempo, continuava o seu trabalho no teatro e prosseguia com experiências sem fim.

Uma dessas experiências, disparou uma série de eventos fatídicos. Meucci desenvolveu um método que usava choques elétricos para tratar doenças, que se tornou bastante popular em Havana. Um dia, ao preparar-se para administrar esse tratamento num amigo, Meucci ouviu uma exclamação do amigo, que estava num quarto próximo, através de uma peça do fio de cobre que os conectava. O inventor compreendeu imediatamente que tinha em suas mãos algo muito mais importante do que qualquer outra descoberta que havia feito, e gastou os dez anos seguintes para desenvolver o princípio descoberto até um estágio prático. Mais dez anos foram gastos para aperfeiçoar o dispositivo original e tentar promover a sua comercialização.

Com este objetivo, saiu de Cuba para Nova York em 1850, estabelecendo-se em Clifton, uma seção de Staten Island, há algumas milhas de New York City. Ali, além dos problemas de natureza estritamente financeira, Meucci concluiu que não conseguiria se comunicar adequadamente em inglês, problema que havia sido atenuado pelas similaridades entre o italiano e o espanhol, durante sua residência em Cuba. Além disso, em Staten Island, encontrou-se cercado por refugiados políticos italianos; Giuseppe Garibaldi, quando exilado da Itália, viveu um período nos Estados Unidos, na casa de Meucci.

O cientista tentou ajudar aos seus amigos italianos, idealizando um grande número de projetos industriais, usando métodos de manufatura, novos ou melhorados, para diversos produtos, tais como a cerveja, as velas, os pianos e o papel. Mas ele não detinha a arte da gerência, e mesmo aquelas iniciativas que tiveram sucesso, viram seus lucros corroídos por gerentes ineptos ou inescrupulosos, ou pelos próprios refugiados, que gastavam mais tempo em discussões políticas do que trabalhando ativamente.

Entrementes, Meucci continuou a dedicar seu tempo para aperfeiçoar o telefone. Em 1855, quando sua esposa se tornou parcialmente paralisada, Meucci montou um sistema telefônico, ligando diversos quartos de sua casa, com sua oficina de trabalho, em outro edifício, próximo dali, a primeira instalação telefônica do mundo. Em 1860, quando o aparelho se tornou mais prático, Meucci organizou uma demonstração, visando atrair investimentos financeiros, onde a voz de um cantor foi ouvida claramente, por espectadores, a uma distância considerável. Uma descrição do aparelho foi logo publicada em um dos jornais italianos de Nova York, e a notícia, junto com um modelo da invenção foi levada à Itália, por um certo Signor Bendelari, com o objetivo de conseguir sua produção naquele país; nada resultou desta viagem, nem das muitas promessas de apoio financeiro que haviam emergido da demonstração.

Os anos que se seguiram, trouxeram pobreza crescente para um amargurado e desencorajado Meucci, que, não obstante, continuou a produzir uma série de invenções novas. Sua precária situação financeira, entretanto, obrigou-o, amiúde, a vender os direitos das suas invenções e, apesar disso, permanecia sem os recursos para tirar a patente final do telefone.

Um evento dramático, no qual Meucci teve severas queimaduras, durante a explosão do navio a vapor Westfield, retornando para New York, levou as coisas para um estado ainda mais trágico. Enquanto Meucci jazia no hospital, miraculosamente vivo após o desastre, sua esposa vendeu muitos dos seus modelos de trabalho (inclusive um protótipo do telefone), assim como outros materiais, a um negociante de objetos usados, por seis dólares.

Quando Meucci tentou comprar de volta estes preciosos objetos, foi informado de que haviam sido revendidos “a um jovem desconhecido”, cuja identidade permanece um mistério até hoje. Esmagado, mas não vencido, Meucci trabalhou noite e dia para reconstruir sua invenção, bem como para produzir novos desenhos e especificações, claramente apreensivo de que alguém a pudesse tentar roubar, antes que conseguisse ter sua patente. Incapaz de levantar a soma para uma patente definitiva (US$250, bastante considerável naqueles dias), ele entrou com processo no ‘Embargos ou Notificação de Objetivos’ (Caveat or Notice of Intent), registrado em 28 de Dezembro de 1871, e renovado em 1872 e em 1873 mas, tragicamente, não mais depois disso.

Imediatamente após receber a certificação do Caveat, Meucci tentou, outra vez, demonstrar o enorme potencial do dispositivo, entregando um modelo e detalhes técnicos ao vice-presidente de uma das filiais da, recentemente estabelecida, ‘Western Union Telegraph Company’, pedindo permissão para demonstrar-lhes o seu “telégrafo falante”, no sistema de fios da Western Union. Entretanto, todas as vezes que Meucci tentava contactar este vice-presidente, um certo Edward B. Grant lhe comunicava não ter havido tempo para arranjar o teste. Dois anos se passaram, depois dos quais Meucci exigiu a devolução dos seus equipamentos, ao que lhe responderam que “tinham sido perdidos.” Isso ocorreu em 1874.

Em 1876, Alexander Graham Bell requereu uma patente que não descrevia realmente o telefone, mas referia-se a ele como tal. Quando Meucci soube disto, instruiu seu advogado a entrar com protesto junto ao Escritório de Patentes dos Estados Unidos (U.S. Patent Office), em Washington, algo que nunca foi feito. Não obstante, um amigo contactou Washington, tendo sabido que todos os originais referentes ao “telégrafo falante”, registrados por Meucci no Caveat or Notice of Intent, “tinham sido perdidos”. Uma investigação posterior produziu evidências de relacionamentos ilegais, ligando determinados empregados do U.S. Patent Office a funcionários da Bell Company.

E mais tarde, no curso do litígio entre a Bell Company e a Western Union, revelou-se que a Bell teve que concordar em pagar à Western Union, 20 por cento dos lucros obtidos na comercialização da “sua invenção”, por um período de 17 anos. Isso significou milhões de dólares, mas o preço pode ter sido mais barato do que a revelação de fatos que eram melhor permanecer escondidos, do ponto de vista da Bell, é lógico.

No caso levado ao Tribunal, em 1886, embora os advogados da Bell Company tentassem torcer o caso de Meucci em favor do seu cliente, Meucci foi bastante hábil em explicar cada detalhe da sua invenção, tão claramente, que restaram poucas dúvidas sobre a sua veracidade, embora não tenha ganho o caso contra as forças superiores – e muito mais ricas – no campo da Bell.

Apesar de uma declaração pública da Secretaria de Estado (Secretary of State), de que “existia prova suficiente para dar a prioridade a Meucci na invenção do telefone”, e apesar do fato dos Estados Unidos iniciarem uma acusação por fraude contra a patente da Bell, essa ação foi postergada, ano após ano, até a morte de Meucci, em New York-EUA, no ano de 1896, quando o caso foi encerrado.

A história de Antonio Meucci é ainda muito pouco conhecida, contudo, é um dos episódios mais extraordinários da história dos EUA, se bem que um episódio em que a justiça foi pervertida. E mais, o gênio e a perseverança de um imigrante italiano – gênio, homem de negócios pobre, defensor tenaz dos seus direitos, mesmo contra todas as probabilidades e sendo moído pela pobreza – é uma história que merece e deve ser contada.

Antonio Meucci está esperando para ser reconhecido como o inventor de um elemento chave da nossa cultura moderna: o TELEFONE.

Finalmente, no ano de 2002, a justiça começa a ser restabelecida, pois a patente desse importante invento, outrora ‘atribuído’ a Graham Bell, foi reconsiderado pelo Congresso dos Estados Unidos, em sua Resolução 269, de 11 de Junho de 2002, em favor do seu verdadeiro inventor: Antonio Meucci (Antonio Santi Giuseppe Meucci), italiano nascido em San Frediano, perto de Florença-Itália, no ano de 1808.

Esperamos que o resto do mundo repare a injustiça e passe a divulgar o real inventor, como ele merece.

Referências :

http://www.nossosaopaulo.com.br/Reg_SP/Barra_Escolha/B_AntonioMeucci.htm

http://www.guardian.co.uk/world/2002/jun/17/humanities.internationaleducationnews



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Engenheiro Eletrônico, trabalha na área de TI e Telecomunicações e é aficcionado por tecnologia, e a prática da radioescuta
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