Brasil e mundo (re)descobrem o Padre Roberto Landell de Moura

Padre Roberto Landell de Moura
Padre Roberto Landell de Moura – Cientista brasileiro pioneiro na invenção do rádio e telefone sem fio

Por Eduardo Ribeiro
eduribeiro@megabrasil.com.br

Era uma aula até certo ponto despretenciosa de Rádio-jornalismo, com o professor chileno Júlio Zapata.

Vivíamos tempos bicudos (1977 se a memória não me falha) e víamos sombras em tudo e em todos. E com Zapata não era diferente: um chileno no Brasil, em plena ditadura, dando aulas no curso de jornalismo numa faculdade, digamos assim, burguesa, era, no mínimo, muito estranho. Mas como suas aulas situavam-se entre as mais agradáveis e mobilizadoras do curso, passávamos por cima de eventuais desconfianças, com participações sempre marcantes.

Naquela aula Zapata fez uma revelação que deixou a todos atônitos e incrédulos: o rádio não havia sido inventado pelo italiano Guglielmo Marconi, como até os livros de história brasileiros ensinavam, e sim pelo padre e cientista gaúcho Roberto Landell de Moura, em fins do século XIX, aqui mesmo no Brasil, em transmissões feitas (algumas delas) entre a Avenida Paulista e o Morro de Santana.

Ficamos chocados e desconcertados com aquela revelação e mais ainda por ela ter sido feita por um professor estrangeiro, que certamente conhecia mais de nossa história do que qualquer um de nós.

Pela nossa cabeça passou de tudo, inclusive a idéia de ser aquela uma farsa ou uma brincadeira de mau gosto. Como poderia o rádio ter sido inventado no Brasil, por um cientista brasileiro, e ninguém, no próprio País saber disso? Se na época já fossem conhecidas as tais pegadinhas, sem dúvida alguma aquela seria uma delas, para testar nossa capacidade de reação.

Porém o professor Zapata, no curso, deu evidências mais do que suficientes para que todos nós deixássemos de duvidar de suas afirmações e foi além: indignado com o desconhecimento (e desprezo) dos brasileiros com um de seus mais ilustres filhos, lançou na sala de aula um desafio: que o grupo tomasse para si aquela causa resgatando o padre gaúcho para a história. E certamente o fez por dever de ofício, como já devia ter feito inúmeras vezes, em outros ambientes profissionais e acadêmicos, sem muita esperança de que a provocação tivesse algum resultado prático.

E estava certíssimo, a não ser pela presença, entre nós, de um tal Hamilton Almeida, que, à época, chamávamos de Benê, apelido tirado de seu primeiro nome, Benedito.

Hamilton comprou a pauta, foi à luta e decidiu que ela seria a grande reportagem de sua vida. Faz mais de 20 anos que pesquisa a vida e a obra de Roberto Landell de Moura, padre cientista, renegado e perseguido pela Igreja Católica, que esteve à frente de seu tempo, com experimentos que anteciparam algumas das mais importantes invenções do século XX.

Duas décadas depois de ter editado no Brasil os livros “O outro lado das telecomunicações – A saga do Padre Landell” (Editora Sulina) e “Landell de Moura” (Editora Tchê/RBS – coleção Esses Gaúchos), ele foi lançado na Alemanha pela Editora Debras Verlag, da cidade de Konstanz. O nome do livro é “Pater und Wissenschaftler” (Padre e cientista) e o lançamento ocorreu durante um evento para radioamadores realizado nos dias 4 e 5 de dezembro deste ano na cidade de Dortmund. Um segundo e maior lançamento será realizado em junho de 2005, provavelmente com a presença do autor, numa exposição mundial de radioamadores – a Hamradio -, na cidade de Friedrichshafen.

Hamilton precisou ser lançado na Alemanha para ganhar reconhecimento no Brasil. Suas primeiras obras, editadas no Sul, não conseguiram romper a barreira geográfica e desse modo perderam o efeito multiplicador tão necessário para o reconhecimento de um trabalho dessa magnitude.

Mais do que ele, obviamente perdeu o Brasil e, claro, a História, que continuou, por mais este período, ignorando as peripécias de um dos maiores gênios dos séculos XIX e XX.

Isso pode estar agora mudando, graças à edição alemã. Por conta dela, Hamilton ganhou um espaço privilegiado na mídia brasileira e a saga do Padre Landell, pelo visto, começa a ser recontada. Jornais, sites e agências de todo o País abriram espaço para o livro e isso despertou o interesse de dezenas de pesquisadores, cienteistas e professores que procuraram o autor para saber outros detalhes dessa história desconcertante que quase ninguém conhecia.

Está aberto, portanto, o caminho para que novos pesquisadores se debrucem sobre o Padre Landell de Moura e sua obra e, mais do que isso, para que a História do Brasil possa ganhar esse importante reforço, ainda que tardiamente. Se isso ocorrer, logo logo Padre Landell estará sendo ensinado nos cursos básicos e também na Universidade, ganhando, quem sabe, o mundo, como nosso reconhecido Santos Dumont.

Para contar a história do Padre Landell, Hamilton pesquisou durante vários anos em diversas cidades brasileiras. Revirou bibliotecas, entrevistou familiares e pessoas que tiveram algum tipo de envolvimento com Padre Landell ou seus inventos, manuseou jornais e revistas daquele período, checou, enfim, como bom repórter, todas as pistas e evidências que obteve. E fez tudo isso com dinheiro do próprio bolso e nas horas vagas, sem qualquer apoio oficial.

Desconhecido da mídia e do grande público, o trabalho de Hamilton circulava com certa desenvoltura entre radioamadores por razões óbvias. Um desses radioamadores era o editor alemão Heinz Prange, e ele ficou simplesmente fascinado com a história. Nascia, desse modo, em meados do ano 2000, a decisão de publicar uma nova obra de Hamilton sobre o Padre Landell, porém em alemão e na Alemanha. Trata-se, portanto, de uma obra nova, que atualiza e amplia significativamente os dois livros escritos anteriormente.

Nela se descobre que Padre Landell foi precursor não só do rádio, mas também da televisão e do teletipo, entre outras descobertas. E que, apesar da sua genialidade, o padre cientista não recebeu apoio de ninguém, tendo sido, ao contrário, ignorado e perseguido. Quis unir a religião à ciência e acabou acusado de ter pacto com o diabo. Patenteou seus inventos no Brasil e nos Estados Unidos, realizou experimentos e, ainda assim, não foi reconhecido em sua época. No Brasil, chegaram a destruir os seus aparelhos e impedir seus estudos, por considerá-lo uma espécie de bruxo.

Padre Landell também aperfeiçoou o sistema de telegrafia sem fio e transmitiu pela primeira vez no mundo em ondas contínuas, que são superiores às ondas amortecidas utilizadas nos primeiros tempos das radiocomunicações por outros cientistas. Recomendou o emprego das ondas curtas para aumentar as distâncias das transmissões quando elas não eram sequer cogitadas pelos outros cientistas. Para a transmissão de mensagens, ele também se utilizava da luz, o mesmo princípio que aperfeiçoou as comunicações modernas, empregando-se o laser e as fibras ópticas. Numa época em que as telecomunicações eram precárias até mesmo entre cidades vizinhas, ele já acreditava na possibilidade das comunicações interplanetárias. Morreu no anonimato e sua obra até hoje é pouco conhecida. Com o tempo, as suas invenções acabaram sendo reinventadas por outros cientistas, que ficaram com a fama e a glória.

O jornalista Hamilton Almeida, nascido na cidade de Guarulhos (São Paulo), começou sua carreira em revistas técnicas na capital paulista, e em meados dos anos 80 mudou-se para Porto Alegre. Ali trabalhou por vários anos na editoria de Economia do Zero Hora, sendo posteriormente transferido para Buenos Aires, como correspondente. Ficou cerca de oito anos na capital argentina, os últimos pela Gazeta Mercantil Latino-americana. Em 2000, regressou ao Brasil deixando pouco depois o jornal, num dos cortes feitos pela empresa, àquela altura já em crise. Atualmente, ele integra a equipe do Departamento de Análise

Fonte: Site Comunique-se, 22/12/2004

Saiba mais sobre a história de Padre Roberto Landell de Moura acessando :

http://www.sarmento.eng.br/Padre_Roberto_Landell_de_Moura.htm

Patente da invenção do telefone sem fio - Padre Landell de Moura
Patente da invenção do telefone sem fio concedida ao Padre Landell de Moura

About admin

Engenheiro Eletrônico, trabalha na área de TI e Telecomunicações e é aficcionado por tecnologia, e a prática da radioescuta
This entry was posted in Telecomunicações. Bookmark the permalink.