Astronomia e o Rádio

Nas Ondas Curtas da Guarujá Paulista

Por Sarmento Campos

Estamos aqui para falar sobre radiodifusão de ondas curtas, explorando os aspectos técnicos sobre a recepção de emissoras de rádio.

Este é programa produzido pela sua Guaruja Paulista em parceria com o DX Clube do Brasil, que é uma entidade fundada há mais de 22 anos e é dedicada a divulgação do hobby da radioescuta e dxismo, que consiste na pratica de se sintonizar emissoras muito distantes, em especial nas ondas curtas.

Hoje vamos falar sobre um dos aspectos mais críticos a recepção de sinais de rádio, que é a propagação das ondas de rádio e a sua relação com as estações do ano.

Em encontros anteriores falamos que em ultima instância, é o Sol, o principal astro de nosso sistema solar, que é o responsável pelo que podemos ouvir e quando podemos.

E estamos saindo do mês de julho em pleno inverno no hemisfério sul de nosso planeta Terra, o que nos traz algumas possibilidades de escutas bem interessantes não só em ondas curtas, como também em ondas médias, também conhecido popularmente como AM.

Ao contrário do que chegam a afirmar alguns livros, o inverno que é associado as temperaturas mais baixas, não é devido ao nosso planeta Terra estar mais longe do SOL, o que por sua vez implicaria que no verão a Terra estivesse mais próxima do SOL

Imagine a mesa a sua frente, e que no centro desta, está o SOL brilhando com toda sua imponência. E em ponto próximo do SOL, está o nosso planeta Terra girando ao redor do SOL, em um processo denominado de revolução ou translação.

Ou seja, em um intervalo de um ano, o nosso planeta completa uma volta ao redor do SOL, em uma órbita denominada elíptica, que na realidade, podemos enxergar como um circulo quase perfeito, porém, com um leve achatamento. No caso da órbita do planeta terra, este achatamento é em torno de 3 graus, o que significa que a distancia entre a Terra e o SOL varia muito pouco durante uma revolução, ou seja um ano.

Logo, podemos já imaginar que não é devido ao afastamento da Terra em relação ao SOL que ocorre o inverno.

Mas o ouvinte deve estar se perguntando, o que esta questão de astronomia tem haver com o rádio de ondas curtas e a recepção das emissoras que estão nesta faixa ?

Já chegaremos lá, pois este é um dos aspectos bem interessantes da propagação das ondas de rádio e que necessariamente precisamos conhecer como veremos a seguir.

Pois bem, voltando a nossa mesa que está a nossa frente, tendo o SOL no centro e o planeta Terra em algum ponto em seu movimento de translação ao redor do SOL, em cima da mesa, existe a explicação para a existência da alternância das estações do ano, em especial quanto ao inverno e verão para simplificarmos nosso exemplo.

A Terra ao girar ao redor do SOL segue o mesmo plano imaginário da nossa mesa, porém, nosso planeta é inclinado em seu próprio eixo em torno de 23 graus, logo, no nosso exemplo da mesa, a Terra durante uma volta ao redor do SOL irá passar por quatro pontos bem distintos onde os ângulo de incidência dos raios de SOL na Terra serão diferentes, o que forma as quatro distintas estações do ano.

Assim, o que faz o verão ou o inverno na realidade, é justamente a inclinação da incidência dos rádios solares em nosso planeta.

Imagine que em determinado momento o hemisfério Norte está o mais perpendicular possível em relação ao SOL, assim, quando os raios atingem a superfície da Terra no menor ângulo possível, irá aquecer mais a superfície da Terra, causando assim mais calor.

E ao mesmo tempo, o hemisfério SUL, estará mais inclinado em relação o SOL, diminuindo o ângulo de incidência dos raios solares na superfície da Terra, o que diminui a temperatura gerada na superfície, causando assim o inverno.

Experimente acender uma lâmpada bem potente em um abajur fixo na sua mesa, apontando exatamente de cima para baixo na superfície da mesa, por alguns instantes, a uma determinada altura . Observe como a mesa naquele ponto que está concentrado a luz da lâmpada irá se aquecer. Agora, mantendo a mesma altura da lâmpada no abajur, experimente inclinar a lâmpada, digamos uns 45 graus, de forma a iluminar não só um pequeno ponto mas iluminar uma grande parte da mesa. Você irá perceber que a mesa não esquenta tanto.

Este é o principio das nossas quatro estações do ano.

E finalmente, isto gera um fenômeno bem interessante, alias, vários fenômenos que afetam a propagação das ondas do rádio diretamente.

Como no inverno os dias duram menos do que a noite, o SOL não carrega a tanto a ionosfera, que é a camada eletricamente carregada que está acima da atmosfera e que é responsáveis por hora absorver as ondas de rádio limitando o alcance das ondas de radio e hora refletindo as ondas, permitindo um alcance muito maior.

Assim no inverno, a ionosfera recebe menos raios solares, fica menos carregada eletricamente, e absorve menos as ondas do rádio, permitindo que as ondas de rádio sejam refletidas na ionosfera atingindo assim longas distancias. E isto acontece exatamente para as freqüências mais baixas das ondas curtas, ou seja, no inverno, recebemos melhor as freqüências abaixo de 9.500 khz, que é a faixa de 31 metros, passando pelos 49 metros, que é em torno de 6000 kHz até as ondas médias.

Por sua vez, as freqüências mais altas, como por exemplo a faixa de 13 metros, que é em torno de 21500 kHz, que necessitam de forte ionização da ionosfera para se propagarem, se tornam muito difíceis de atingir longas distancias.

É comum nesta época do ano, recebermos sinais das emissoras de ondas curtas que operam nas ondas tropicais dos estados do Nordeste e norte do Brasil, e o contrário é verdadeiro, como demonstram as cartas que a Rádio Guaruja tem recebido de estados tão distantes como Rondônia por exemplo.

E por sua vez, no hemisfério Norte que agora é verão, a propagação é bem diferente, ou seja, como regra a título de comparação, as melhoras freqüências para a longa distancia são as mais altas, e não as mais baixas.

Existem muitos outros aspectos interessantes sobre propagação das ondas de rádio, que nos possibilitam realizar a prática do DX, que é a sintonia de emissoras distantes e desconhecidas. Assim, sabendo em que época do ano nós estamos, quais as faixas de freqüências mais propicias a recebermos sinais de longa distancia, sabendo também quais são as horas do dia, tanto no amanhecer como no anoitecer onde a noite é mais longa, podemos ouvir estações do outro lado do mundo.

Para fechar com um exemplo de um excelente DX, nosso amigo Celio Romais de Porto Alegre conseguiu sintonizar em Porto Alegre bem cedo, próximo ao amanhecer, emissoras em ondas tropicais de Papua Nova Guiné na Oceania e do Japão, que é do outro lado do mundo.

E durante o encontro Brasil DX 2004, após o anoitecer, foi possível ouvir diversas emissoras do extremos norte do Brasil, assim como diversas emissoras internacionais, inclusive da Europa, em ondas médias.

Por isso, a dica é : fique atento ao seu rádio, pois conhecendo um pouco sobre esta ciência tão interessante que é a propagação, você poderá escutar emissoras bem distantes que provavelmente só daqui a um ano você conseguirá sintonizar de novo.

Bem, este era o nosso tema de hoje, aguardamos seus comentários e sugestões.

Se você deseja conhecer um pouco mais de nossa atividade dxista, escreva para nós :

DX Clube do Brasil

http://www.ondascurtas.com



About admin

Engenheiro Eletrônico, trabalha na área de TI e Telecomunicações e é aficcionado por tecnologia, e a prática da radioescuta
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